📘Demiti meu melhor amigo, e foi a melhor coisa que fiz
Antes que você pense que sou um monstro sem coração, peço que leia esta história e me diga: o que você faria no meu lugar?
Eu não estava preparado para tomar uma decisão como essa: demitir meu melhor amigo, a pessoa que me indicou para o cargo que eu ocupava. Para piorar, ele e sua esposa estavam esperando o segundo filho.
Antes que você pense que sou um monstro sem coração, peço que leia esta história e me diga: o que você faria no meu lugar?
O início de tudo
Para quem não sabe, fui desenvolvedor Java por muitos anos. Sempre gostei do que fazia, mas comecei a me interessar por gestão de projetos. Um dia, surgiu uma oportunidade inesperada: o gerente da minha equipe sofreu um acidente de carro e ficaria afastado por meses. A “bomba” caiu no meu colo – como sênior da equipe, me colocaram para cobrir o cargo temporariamente.
Confesso que no início fiquei perdido, mas depois comecei a me acostumar e até a gostar do papel. Só que a posição era temporária, e quando o gerente retornou, percebi que queria continuar nesse caminho de gestão. Comecei a buscar novas oportunidades. Foi então que meu amigo Sérgio (nome ficticio), um dos desenvolvedores mais talentosos que já conheci, me ligou com uma boa notícia: ele havia me indicado para uma vaga de gerente de projetos na empresa onde trabalhava.
Pouco tempo depois, fui contratado. Estava entusiasmado, e a nova posição parecia bem legal: liderar um time de alto nível, criar soluções inovadoras para grandes clientes e trabalhar lado a lado com Sérgio.
Os primeiros sinais de problemas
Algum tempo depois, as coisas começaram a mudar. Sérgio, que sempre foi exemplar, começou a ter problemas de performance. Suas entregas vinham atrasadas, e a qualidade de seu trabalho já não era a mesma. Tentei ajudá-lo de todas as formas: conversamos diversas vezes, busquei entender o que estava acontecendo e até corrigi códigos dele para aliviar a pressão.
Eu era inexperiente na gestão e, olhando para trás, percebo que tentei protegê-lo mais do que deveria. Era um erro. No meu esforço para ajudá-lo, acabei prejudicando o time, que começou a sentir os impactos das falhas. A excelência da equipe estava se deteriorando, e o ambiente ficou pesado.
O time já estava começando a me olhar torto como quem diz: “Protegendo seu amiguinho né safado!”
Ainda assim, era meu amigo. Eu visitava sua casa nos fins de semana, conhecia sua família e sabia que sua esposa estava grávida. A decisão de demiti-lo parecia impossível, mas os conflitos internos estavam crescendo, e os problemas com os clientes já eram visíveis e começaram a gerar ruidos.
O momento da decisão
Após muita reflexão e com o apoio da minha diretora, percebi que não havia outra alternativa. Para proteger a equipe e o projeto, precisei tomar a decisão mais difícil da minha carreira: demitir meu melhor amigo.
A conversa foi dura, emocional e carregada de culpa. Ele não recebeu bem a notícia, e eu me senti como se estivesse cortando minha própria carne. Passei noites em claro me perguntando se poderia ter feito algo diferente.
No entanto, o resultado foi claro: a equipe recuperou a produtividade, o ambiente se tornou colaborativo novamente, e o projeto avançou.
O que veio depois
Meses depois, Sérgio e eu voltamos a nos falar. Ele me contou que, naquela época, estava acumulando freelances para aumentar a renda, o que o sobrecarregou e comprometeu sua performance. Trabalhando até tarde, com pouco sono e muita pressão, ele sacrificou sua estabilidade no emprego.
Apesar da dificuldade, ele usou essa experiência para abrir sua própria agenda digital e construir uma carreira como freelancer. Hoje, ele atende grandes clientes internacionais e encontrou um modelo de trabalho que funciona para ele.
Lições para uma vida inteira
Essa experiência me ensinou duas lições que carrego comigo até hoje:
1. Liderança exige escolhas difíceis.
Cuidar do time às vezes significa tomar decisões que afetam profundamente nossas relações pessoais.
2. Transparência e diálogo são cruciais.
Os problemas nem sempre são visíveis. Escutar, entender e dialogar são ferramentas poderosas para lidar com situações complexas.
Nunca me arrependi da decisão, mas já me perguntei inúmeras vezes o que poderia ter feito de diferente. No entanto, ignorar problemas em nome do conforto pessoal pode destruir uma equipe inteira – ou até uma empresa.
Como líderes, precisamos lembrar que o bem-estar do coletivo deve vir antes, mesmo quando isso nos custa pessoalmente.
Você teria feito diferente? Me conta!
Atensiosamento
Alllan Torres